O Brasil vive, nos últimos dez anos, um tempo de crescimento da autoestima. Nas décadas finais do século passado, crescia o número de brasileiros, de diferentes classes e domicílios, que sonhavam em deixar o País e fazer a vida no Primeiro Mundo, especialmente nos Estados Unidos. O impulso deste sonho levava-os a aceitarem condições difíceis, de ilegalidade no destino, de clandestinidade na entrada, que algumas vezes lhes custava a própria vida na transposição do Muro.

Hoje ainda existem esses insatisfeitos, quase sempre mais insatisfeitos consigo mesmos do que com o País; mas seu número baixou consistentemente, chegando ao mais baixo patamar dos últimos tempos, em torno de 12%. Na Europa, nos países mediterrâneos, sonhados pelos brasileiros netos de portugueses, de espanhóis e italianos que buscavam passaporte europeu, este potencial de emigrantes anda ao redor de 25%, um quarto da população!

E, mais, um dos destinos preferidos desses inconformados e sonhadores mediterrâneos é precisamente o Brasil, com sua baixa taxa de desemprego, somada à sua alegria, sua gente acolhedora, seu clima ensolarado, suas praias venturosas, sua música encantadora. E agora, por último, sua favelas panorâmicas e cordiais, onde nasce o samba.

A autoestima é uma das condições de espírito mais importantes na composição de quaisquer índices que pretendam avaliar o estado de felicidade de um povo. Claro que a verdadeira felicidade não pode ser medida por índices, mas é da natureza de qualquer ciência a busca da mensuração, e naturalmente as ciências sociais ou humanas vêm constantemente procurando desenvolver novos índices de mensuração do bem-estar dos povos. O PIB é o que mais aparece na mídia porque a mídia reflete os interesses do capital e, para esses interesses, o progresso se mede pelo PIB: quanto maior o PIB mais se pode ganhar dinheiro. Mas o PIB anda por baixo ultimamente, a reunião de Davos deste ano, tão manchetada antigamente, passou quase desapercebida.

Depois do PIB surgiu o IDH, o índice de desenvolvimento humano, que considera, sim, o PIB mas agrega a importância de outras medições ligadas à educação e à saúde. O IDH significou um grande avanço em direção à avaliação do bem-estar, se bem que, para nós brasileiros, resultou num grave rebaixamento. Em matéria de PIB estamos bem, em sexto ou sétimo lugar no mundo; e devemos manter essa situação nos próximos períodos, com taxas de crescimento nada grandiosas mas firmes, preocupados em melhorar sempre os aspectos sociais, que pesam no IDH, em cujo ranking ficamos realmente bem para trás, lá pela quinquagésima posição. Em educação, por exemplo deste esforço, o Governo está investindo 25% da receita pública, bem acima dos 18% de antes, que era o mínimo constitucional. No tocante à distribuição da renda, a melhoria da nossa posição tem sido igualmente bem destacada.

Esta visão positiva é, aliás, a expectativa do mundo dos negócios, que continua acreditando no Brasil e mantendo em nível elevado os investimentos diretos, voltados para a produção, não mais para os ganhos financeiros especulativos como no tempo dos juros altos. O Brasil é o quarto destino do mundo, em termos de valor aplicado, neste tipo de investimento, para a produção como também para o desenvolvimento tecnológico.

Ultimamente, entretanto, novas medições internacionais têm sempre buscado índices de maior amplitude e maior significado qualitativo, que procuram levar em conta muito mais do que os dados econômico-sociais, avaliando também, de um lado, a conservação do meio ambiente e, de outro, o estado de satisfação espiritual das populações aferido através de pesquisas por entrevistas e de índices de suicídio e depressão. Nessas últimas medições, o Brasil volta a uma posição de preeminência juntamente com os países da América Latina.

Ouço dizer, aliás, que técnicos do Banco Mundial que andam especulando em torno dessas novas medições teriam parado e mudado o rumo de suas pesquisas ao depararem com uma posição proeminente de Cuba, que possui um IDH elevado e um baixíssimo nível de emissão de carbono. Não sei se a informação é verdadeira mas “se non é vero, é bene trovato”. E é muito engraçado.

De qualquer forma as vibrações do alto astral dos brasileiros no momento vem atraindo, além de investimentos produtivos, um bom contingente de emigrantes europeus, o que, em si, é positivo, tendo em vista que o emigrante é, na média, um ser humano ousado e criativo, qualidades que podem ser ainda melhoradas com uma seleção razoável que estimule a vinda de gente de qualificação cultural mais elevada.

 

*Roberto Saturnino Braga, ex-senador (PT/RJ), é autor de O curso das ideias (editado pela EFPA) e integrou o Conselho Curador da FPA.