“O reconhecimento do Estado palestino pela ONU é um passo importante da luta de libertação dos povos em um mundo repleto de muros que entravam o desenvolvimento humano, o respeito, a tolerância, a democracia, a convivência e a diversidade”, afirmou o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Vagner Freitas, na Conferência “Por um mundo sem muros, bloqueios, discriminação racista e patriarcado”, realizada nesta sexta-feira (30/11) no Fórum Social Mundial Palestina Livre, em Porto Alegre.

A Conferência mediada por Rosane Bertotti, secretária de Comunicação da CUT Nacional e da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), contou com a participação do professor Paulo Farah, especialista em cultura árabe da USP; Jamal Juma, da organização Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel (BDS); do deputado Fayez Saqqa, membro do Conselho Legislativo Palestino e do dirigente sul-africano da Coalizão pela Palestina Livre Stiaan van der Merwe.

O “muro do bloqueio informativo” erguido pelos grandes conglomerados midiáticos, denunciou Rosane Bertotti, é utilizado para manipular, mentir e criminalizar as lutas de libertação, como a do povo palestino. “A velha mídia esconde e invisibiliza a voz da liberdade, pois teme a verdade. Nossa luta pela democratização da comunicação é para colocar abaixo este muro de alienação que semeia preconceito, individualismo, racismo e machismo”, frisou.

O deputado Fayez Saqqa lembrou que “os muros que Israel semeia não são só os da construção de concreto que isola as comunidades palestinas, mas o da construção do ódio, pois querem a terra sem pessoas”. “Cometem crimes e fazem massacres para forçar o povo palestino a fugir. Mas nós resistimos. Queremos viver em paz mesmo com os que nos mataram, mesmo reduzidos a ser um país com 22% do seu território original”, disse. Saqqa recordou a todos que mesmo sendo parlamentar não tem assegurado o direito à cidade palestina de Belém, onde vive, “pois a política sionista é fascista, é de colonização e submissão”.

“A causa Palestina é a causa da Humanidade”, defendeu o professor Paulo Farah, fazendo um rápido histórico da presença milenar da comunidade árabe na região e de como a convivência com os demais povos foi sempre harmoniosa. “Há uma construção teórica do orientalismo para criar estereótipos para justificar as sucessivas violações de Israel contra os direitos humanos do povo palestino. É desta forma que o povo palestino não tem controle sobre o seu mar, sobre a sua água ou terra”. Na Faixa de Gaza, citou, num território menor do que São Bernardo do Campo, vivem mais de um milhão e setecentas mil pessoas sob cerco, em condições totalmente desumanas. “Por isso temos de celebrar a admissão do Estado palestino pela ONU, pois é um primeiro passo para mudar esta situação”.

Jamal Juma exortou aos militantes das mais de 200 organizações de 36 países presentes ao Fórum a fortalecerem a campanha de boicote, desinvestimento e sanções contra Israel, caminho que se revelou vitorioso da luta da resistência negra sul-africana contra o apartheid. Agradecendo o apoio do Brasil, em especial da CUT e da Marcha Mundial das Mulheres, Juma ressaltou que é com a determinação da solidariedade militante que serão colocados abaixo as 1.600 barreiras que segregam os palestinos, bem como o muro de centenas de quilômetros erguido para que Israel imponha a sua hegemonia, roubando a água e as terras agricultáveis palestinas.

Interesse coletivo

Vagner lembrou da importância de “afirmar a força do trabalho e lutar para que prevaleça o interesse coletivo, neste momento em que a economia mundial é ditada pelo mercado, financista, que exalta o consumismo e o individualismo. Não podemos permitir que a raça humana continue sendo submetida ao capitalismo, um sistema político e econômico que por si só é excludente, baseado na exploração do homem pelo homem. Nunca como agora foi tão necessário lutar pela mudança deste sistema”. “Nós seguimos empenhados na construção de uma Pátria socialista, contemporânea, com ideais e princípios marxistas”, acrescentou.

Com o aprofundamento da crise na Europa e nos Estados Unidos, ressaltou o dirigente cutista, “muitas conquistas da classe trabalhadora estão sendo perdidas, tomadas pela burguesia”. Por isso o capital e sua mídia buscam semear a divisão, com seus anti-valores, lembrou: “Hoje a Europa é um campo fértil para o preconceito. Na Grécia, Portugal e Espanha tentam abafar a solidariedade de classe e promover o preconceito contra o imigrante, jogando trabalhadores contra trabalhadores”.

Ao atacar os direitos da classe e aprofundar ainda mais a exploração dos nossos países – via sistema financeiro e transnacionais – destacou o líder cutista, a política do Consenso de Washington busca ganhar uma sobrevida, “adotando o mesmo receituário que gerou a crise”. Diferente deste descaminho, lembrou, o Brasil e parcela expressiva da América Latina enfrentaram a crise com o protagonismo do Estado induzindo o desenvolvimento, fortalecendo o mercado interno, aumentando o poder de compra dos salários, o que tem permitido minorar os impactos da crise em vez de potencializá-la, como era a pauta dos financistas.

Direita instrumentaliza a mídia

A falta de liberdade de expressão e de direito à informação, devido a uma mídia que não dá voz ao contraditório, alertou o presidente cutista, é outro dos muros que precisa ser colocado abaixo. “Instrumentalizados pela direita, os grandes conglomerados de comunicação promovem a intolerância e a criminalização dos movimentos sociais”, denunciou Vagner, frisando que é isso o que está ocorrendo no julgamento do chamado mensalão, “com a mais alta Corte do país sendo utilizada pela mídia para julgar o Partido dos Trabalhadores e o presidente Lula”. “Neste Fórum que fala de democracia e de liberdade, alertamos que no Brasil começa a se construir o caminho do golpe”, sublinhou.

A armação da direita para a deposição do presidente Lugo no Paraguai, o empenho para derrotar Chávez na Venezuela e Cristina na Argentina, e as sucessivas e reiteradas ações contra o avanço da democracia e da justiça social no continente, declarou Vagner, “mostram que a direita percebeu que não consegue mais convencer”. “Por isso semeiam a intolerância buscando regimes de exceção. Em defesa da democracia e da liberdade, nós vamos derrotar o retrocesso”, concluiu.

 

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