Faleceu Alcione Araújo, escritor, roteirista, diretor de teatro e professor
16 de novembro de 2012 -
Acabamos de receber uma notícia triste. Faleceu nesta madrugada, em Belo Horizonte, o companheiro Alcione Araújo (mineiro de Januária-MG, 1945). Nilmário Miranda, presidente da Fundação Perseu Abramo, informou que Alcione sofreu um ataque cardíaco fulminante no hotel em que se hospedava no bairro da Savassi, na capital mineira.
Autor de mais de uma dezena de livros publicados, roteirista, cronista, diretor de teatro e professor, Alcione Araújo compunha o Conselho Editorial da Fundação Perseu Abramo, um dos vários espaços que ocupou de forma engajada com sua arte marcante, sua política e intelectualidade generosa.
Formado em engenharia, lecionava na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na mesma universidade, interessado em teatro, ingressou no curso de formação de atores. Em Belo Horizonte encenou sua primeira peça, Há Vagas para Moças de Fino Trato, 1974.
Escreveu quatorze roteiros cinematográficos de longa-metragem, entre os quais, Nunca fomos tão felizes (prêmio de Melhor Roteiro nos festivais de Gramado e Brasília), Jorge um brasileiro e Policarpo Quaresma.
A segunda peça de Alcione, Bente-Altas: Licença para Dois, foi encenada em Belo Horizonte, com direção de Aderbal Freire-Filho, em 1976, depois de ganhar, no Rio de Janeiro, um prêmio no concurso de dramaturgia do Grupo Opinião.Os protagonistas são dois jovens marginais recém-saídos de um estabelecimento de recuperação de menores. Em 1976 estreia, ainda em Belo Horizonte e também com direção de Aderbal, Sob Neblina Use Luz Baixa, texto premiado no Concurso de Dramaturgia do Serviço Nacional de Teatro (SNT). O autor aborda, pela primeira vez,o triste fenômeno dos desaparecidos, cuja presença-ausência repercute no cotidiano dos familiares e levou Alcione Araújo a dissecar a instituição da família.
Em 1981, no Rio de Janeiro, estreia como diretor profissional com Doce Deleite, uma colagem de doze esquetes cômicos, dos quais oito são de sua autoria. Segue em 1981, numa produção do Teatro dos Quatro dirigida pelo autor, a comédia Comunhão de Bens, que aborda a instituição do casamento sob o prisma da recente revolução dos costumes sexuais. Muitos Anos de Vida, que dirige em 1984, lhe proporciona o Prêmio Molière de melhor autor. O autor traçou aqui uma análise do autoritarismo dentro do grupo familiar, análise que pode ser também interpretada como uma alegoria mais abrangente sobre o comportamento das faixas mais direitistas e conservadoras da pequena classe média nacional. Em texto publicado no programa da peça, escreveu: “O que me interessa sempre como matéria-prima teatral é o homem, ideias e ideologias trazidas para o cotidiano, para as situações corriqueiras, onde princípios e doutrinas são postos em xeque. E isso no homem brasileiro”. A Caravana de Ilusão, 1982, foi montada por Luiz Arthur Nunes sete anos depois de escrita.
Durante 12 anos lecionou na Uni-Rio, na Escola de Teatro Martins Pena e na Casa das Artes de Laranjeiras. Cronista do jornal Estado de Minas, sua coletânea de crônicas Urgente é a vida conquistou o Prêmio Jabuti (2005).
Em 2006 publicou Escritos na água e Este seu olhar. Seu romance Pássaros de voo curto é uma viagem ao Brasil do século passado. Como ensaísta participou, entre outros, dos livros Os sete pecados do capital, Para entender o Brasil e Nossa paixão era inventar um novo tempo.
Alcione conquistou também um verbete no Dicionário de literatura da língua portuguesa, publicado em Portugal, que inclui escritores, dramaturgos e filósofos das sete nações de língua portuguesa. Desde 2001 contribuía como coordenador de debates nas Jornadas Literárias de Passo Fundo (RS).
Nosso companheiro deixará saudades e uma marca indelével na cultura brasileira. Aos familiares e amigos, nosso abraço fraterno.
Coordenação editorial
Editora Fundação Perseu Abramo
Atualizado em 16/11/2012, às 16:49