Relato das eleições no Timor Leste
Viajei em missão da Câmara dos Deputados, junto com a deputada Perpétua Almeida, para acompanhar as eleições no Timor Leste, o único país de língua portuguesa no extremo da Ásia. Este pequeno país, com uma população de 1 milhão e 100 mil habitantes, tem dez anos de independência, depois de prolongada guerra de libertação da Indonésia. Um brasileiro, Sérgio Vieira de Mello, nomeado pela ONU, administrou por três anos o país na transição para a independência.
O Brasil tem que se fazer presente na Ásia e continuar ampliando sua presença internacional, para influenciar com nossa cultura, nossos valores, e disputar na economia globalizada. Por isso, crescem em importância nossas relações com Timor Leste. Ainda mais que há uma disputa promovida pela Austrália, seu grande país vizinho, que quer tirar o português e transformar o inglês na segunda língua oficial. A outra língua oficial é local, chamada de tétum.
Timor Leste tem apoiado o Brasil nos pleitos internacionais, entre eles de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, e na eleição vitoriosa do Diretor Geral da ONU para a agricultura e a alimentação, a FAO. O presidente Lula já visitou o Timor Leste, e com ele esteve a presidenta Dilma quando ainda era ministra. Por sua vez o presidente e o primeiro ministro daquele país já estiveram no Brasil. Há um programa de cooperação técnica entre o Brasil e o Timor Leste, e um programa de cooperação institucional do qual participam a Câmara dos Deputados e o Judiciário brasileiro.
O Timor leste é um dos países mais pobres do mundo, embora tenha diminuído a pobreza e crescido a mais de 10% ao ano em anos recentes. A principal fonte de receita do governo é o petróleo. Faltam no país muitos quadros técnicos. Esta é uma das grandes oportunidades para os brasileiros. Há perspectivas de crescer a produção local, pois até aqui é um país que importa quase tudo com a renda do petróleo. Há identidades de clima conosco. É um país equatorial. Há identidade de religião. O catolicismo é predominante.
Nas eleições que acompanhei, a votação é feita em cédulas de papel, em lista partidária, e a apuração ainda é manual, feita nos estados, que eles chamam de distritos. É parecido com o sistema que se usava no Brasil antes da adoção da urna eletrônica. As atas são encaminhadas e conferidas por uma Comissão Nacional Eleitoral.
O resultado eleitoral deu vitória ao partido do atual primeiro ministro Xanana Gusmão, que lutou pela independência e foi o primeiro presidente da República. Em segundo lugar ficou o partido de José Ramos Horta, ex-presidente da República e vencedor do prêmio Nobel da Paz. Estes dois partidos juntos fazem algo em torno de dois terços dos votos, o que assegura uma continuidade na linha dos líderes da independência e de boa colaboração com o Brasil.
*Janete Rocha Pietá é deputada federal (PT-SP), membro da Comissão de Relações Exteriores e coordenadora da Bancada Feminina na Câmara.