Abdias do Nascimento, presente!
Abdias Nascimento nasceu em Franca/SP em 14/03/1914 e faleceu no Rio de Janeiro/RJ em 24/05/2011.Há um ano ficamos órfãos da inspiração que ele nos trouxe por quase um século!
Nosso velho Abdias foi uma pessoa multimídia. Foi de tudo um pouco: militante, artista, escritor, professor, gestor de politicas públicas, deputado federal, senador. Foi acima de tudo um político, daqueles persistentes e incansáveis.
Em vida consagrou-se pela defesa intransigente do respeito à dignidade humana. Em particular, teve como eixo politico a defesa dos direitos da população negra. Uma de suas instigantes argumentações foi descrita no Boletim Minas Gerais – 13 de maio, Dia de Denúncia contra o Racismo (n. 1098 de 07/05/1988):
“Como esquecer que a República, logo após a abolição, cassou do ex-escravo seu direito de votar, inscrevendo na Constituição que só aos alfabetizados se concedia a prerrogativa desse direito cívico? Como esquecer que, após nosso banimento do trabalho livre e assalariado, o código penal de 1890 veio definir o delito de vadiagem para aqueles que não tinham trabalho, como mais uma forma de manter o negro à mercê do arbítrio e da violência policiais? Ainda mais, definiram como crime a capoeira, a própria expressão cultural africana. Reprimiram com toda a violência do estado policial as religiões afro-brasileiras, cujos terreiros se viram duramente invadidos, os fieis e os sacerdotes presos, pelo crime de praticar sua fé religiosa. Temos vivido num estado de terror: desde 1890, o negro vem sendo o preso político mais ignorado desse País”.
Fica explicito que Abdias não mediu esforços em chamar a atenção da sociedade, dos governos e do Estado brasileiro para a necessidade premente de passar nossa historia a limpo. Alegava que o principio deveria ser o reconhecimento da existência do racismo, e, e persistia na necessidade de gerar oportunidades efetivas para a população negra do ponto de vista social, politico, econômico e cultural.
Foi incansável em afirmar que nós negros não somos descendentes de escravos, somos sim originários do Continente Africano. E, como descendentes de africanos que somos, lutamos no passado e no presente pela liberdade, democracia e justiça.
Sem sobra de duvida, estamos saudosos da voz apimentada de Abdias. O que nos conforta é que sua energia e bravura permanecem presentes entre nós.
Axé Abdias!
*Matilde Ribeiro, doutoranda em Serviço Social e ex-ministra da Igualdade Racial.