Queremos o poder, o microfone e o batom
Neste Dia Internacional da Mulher é importante fazermos uma reflexão sobre as nossas conquistas e os múltiplos desafios que ainda precisamos enfrentar para tornarmos mais justa e mais democrática a sociedade brasileira.
Neste Dia Internacional da Mulher é importante fazermos uma reflexão sobre as nossas conquistas e os múltiplos desafios que ainda precisamos enfrentar para tornarmos mais justa e mais democrática a sociedade brasileira.
A revolução feminista na segunda metade do século XX foi absolutamente fundamental para o resgate de uma série de direitos não apenas das mulheres, mas de outros segmentos da humanidade vitimados pela violação da dignidade humana. Quando as mulheres se colocam em movimentam, elas movimentam toda a sociedade, porque realçam a possibilidade de termos o reconhecimento humano.
Hoje não apenas rememoramos que, no dia 08 de março de 1857, foram carbonizadas numa fábrica de tecidos em Nova York 129 operárias que lutavam por uma jornada de trabalho mais humanizada. Não recordamos apenas que há somente 80 anos as mulheres neste país conquistaram o direito a voto. Porque não queremos apenas votar. Não queremos uma democracia pela metade.
Nós queremos que o Parlamento e todos os espaços de poder tenham uma participação efetiva das mulheres. Queremos desconstruir todas as burcas invisíveis que ainda fazem com que nós, mulheres, sejamos apenas 8,7 por cento dos 513 deputados federais eleitos em 2010. No Brasil, há, em média, somente 9% de mulheres em todas as esferas do Poder Legislativo, somando as Câmaras de Vereadores, as Assembleias Legislativas e o Congresso Nacional. É uma percentagem menor que nos países árabes e que nos coloca também em antepenúltimo lugar entre os países das Américas em participação feminina nos Parlamentos. E nós somos hoje 52% da população brasileira.
Este é um sintoma de muita desigualdade. Desigualdade que está no local de trabalho, na sociedade e até mesmo dentro do próprio lar. Desigualdade que se expressa na violência doméstica, cujas marcas ficam não apenas na pele, mas também na alma das mulheres, vítimas de uma lógica de dominação em que aqueles que se sentiam donos das terras também se sentem donos das mulheres e das crianças. É a lógica das capitanias hereditárias, hoje pós-modernas, que despersonaliza a mulher, a coisifica e a transforma em espelho dos desejos do homem. É a negação do outro enquanto semelhante.
Portanto, neste século XXI o nosso grande desafio é reconhecer o outro enquanto ser humano – diferente na forma de ser, mas absolutamente igual em direitos. Nós, mulheres, queremos, sim, o poder. Não o poder contra os homens, mas o de sermos nós mesmas, o de exercermos a condição humana que nos foi castrada. Por isso, considero fundamental que a questão de gênero esteja presente na reforma política. Será um arremedo de reforma política se os parlamentares fecharem os olhos para a subrepresentação das mulheres no Parlamento. Nós queremos ter o poder da caneta, o poder do microfone, mas queremos continuar usando o batom. Nós, mulheres do século XXI, queremos abrir e ocupar todos os espaços naturais da mágica condição humana.
Erika Kokay, deputada federal (PT/DF), vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados