O debate sobre "Desenvolvimento sustentável: modo alternativo na América Latina" contou com a participação do embaixador Guilherme Patriota,assessor especial de Política Externa da Presidência da República, em substituição a Marco Aurélio Garcia, Eron Bezerra, secretário de Produção Rural do Amazonas, Ana Elisa Osório, dirigente do Partido Socialista Unido da Venezuela e deputada do Parlamento Latino-Americano, Ariel Elger, representante do Partido Comunista da Argentina, Osvaldo Zayas, representante do Partido Comunista do Paraguai e Yuyo Rudnik, coordenador de Relações Internacionais do Movimiento Libres del Sur, da Argentina. A atividade foi realizada no auditório da Faculdade de Engenharia da UFRGS no dia 25/01,  promovida pelas Fundações Perseu Abramo e Mauricio Grabois, além do Foro de São Paulo.
 

Foto: Venise Borges

FST 2012: Defender os recursos naturais e incluir a agenda social no debate sobre sustentabilidade
Da esq. p/direita: Osvaldo Zayas, Ariel Elger, Ana Elisa Osório, Valter Pomar, Eron Bezerra, Guilherme Patriota e Yuyo Rudnik.

Apropriação dos recursos
Eron Bezerra enfatizou a necessidade de o país se apropriar dos recursos naturais brasileiros como forma de deixar de ser apenas exportador de matéria prima barata. A Amazônia, segundo ele, é depositária das maiores riquezas que o Brasil conhece em água, minérios e outros recursos.

Ele apresentou a experiência do bacalhau brasileiro, produzido a partir do pirarucu e beneficiado pela comunidade de Maraã, na região do Alto Solimões, na qual a agregação de valor à matéria prima – no caso o peixe muito comum na Amazônia – valoriza o produto final, verticaliza a produção, gera empregos e garante o manejo sustentável dos recursos naturais.  O bacalhau de Maraã será introduzido nos supermercados de São Paulo a partir de fevereiro. "Isso sim é sustentabilidade real, criando alternativas econômicas a partir da nossa matéria prima", garantiu o secretário.

De acordo ainda com Bezerra, os recursos naturais são finitos, portanto é preciso encontrar formas de utilizar esses recursos de maneira sustentável de forma que as futuras gerações possam usufruir deles também.

Consumo e regulação do mercado
Para o embaixador Guilherme Patriota, no contexto internacional, os desafios colocados são os de resolver a questão dos recursos finitos e os entraves colocados a partir de hábitos de consumo cristalizados ao redor do mundo, principalmente nos países desenvolvidos. 

Outro debate apontado pelo embaixador é  o da regulação pelo mercado. Esta, segundo ele, é uma nova etapa do capitalismo moderno, na qual o mercado se autorregula, introduzindo a questão da  sustentabilidade. Cria-se, então, o mercado de Carbono que é a cobrança maior para produtos que são transportados a maiores distâncias, por exemplo. "Fala-se na economia verde, que é um modelo europeu, mas o que precisamos é de uma sociedade verde.  A economia é só uma a parte.  Os valores sociais têm que ser outros.  Não podemos manter o padrão atual de casa bonita e três carros na garagem. O debate necessário é qual é a sociedade que queremos", enfatizou o embaixador.

Entre os temas que perpassam a questão da sustentabilidade, o embaixador falou sobre a questão energética, que é geopolítica, com países como Estados Unidos que vem investindo cada vez  mais na energia nuclear voltada para geração de energia. O Brasil, segundo Patriota, vem mesclando alternativas como a hidroeletricidade – que seria uma grande oportunidade para América Latina –  renováveis como biocombustíveis e outros renováveis dependentes de tecnologias como a eólica.

Em relação à América Latina, Patriota enfatizou que é preciso ter uma agenda política, de cidadania, que inclua a questão da sustentabilidade nos currículos escolares, na organização dos movimentos dos trabalhadores, entre outros. Ele também falou sobre a necessidade da interligação de infraestrutura energética como  a exploração de gás e petróleo na região, a criação de um conselho de desenvolvimento sustentável na Unasul, o envolvimento da Celac – Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos e da Comunidade de Nações Andinas, entre outras alternativas.

Democracias e populações ameaçadas
A deputada do Parlamento Latino Americano (Parlatino), Ana Elisa Osório, lembrou que o continente está cada vez mais “policial”, decorrente do esgotamento das reservas de água e petróleo dos Estados Unidos, por exemplo.  "Precisamos estar atentos à nossa soberania e nossos recursos naturais", disse Ana Elisa, que concorda com Patriota sobre a possibilidade  de criação de um modelo de integração novo, via Unasul, por meio de um conselho de defesa dos recursos naturais dos países da América Latina.

"Temos que avançar para um modelo diferente que não leve em conta apenas o ponto de vista de preservação dos recursos naturais, mas também a forma de aproveitamento desses recursos,  pensando no presente e no futuro.  Até hoje, milhões de homens e mulheres ainda vivem na miséria, não tem água, e homens e mulheres fazem parte da natureza, então este não é um um problema apenas econômico", disse Ana Elisa.  Para ela, é preciso mudar o paradigma de que é preciso ter muito para ser feliz.

Ariel Elger, do Partido Comunista da Argentina, falou sobre a crise que afeta civilização burguesa, com as reservas energéticas se esgotando e sem que modos alternativos de produção e vida independente do petróleo sejam encontradas. 

Em relação à América Latina, Elger enfatizou que não há solução individual para um ou outro país e que se isso vier a acontecer, a região poderá voltar a viver sob dominação imperialista como no passado. "A integração latino-americana é fundamental em meio à crise internacional, pois na região estão reservas importantes de matéria prima como lítio, água, etc”, disse Elger, para quem a atual crise de recursos vai trazer um retrocesso nos processos democráticos vividos na história recente da América Latina ou o retorno de regimes conservadores.

O representante do Partido Comunista do Paraguai Osvaldo Zayas também apontou a necessidade uma mudança nos paradigmas e de uma saída solidária, integracionista.  Ele falou sobre a situação dos produtores rurais de seu país, que estão sendo eliminados  pela monocultura da soja e pela acelerada ampliação da criação de gado.

Para Zayas, apesar de ter havido mudança de governo em seu país, o modelo de desenvolvimento permanece o mesmo e não houve redução da pobreza. "Se não muda o modelo produção, não há desenvolvimento humano", disse ele. E concordou com o argentino Elger quanto ao risco dos países da região voltarem às mãos de forças conservadoras.

Yuyo Rudnik, do Movimiento Libres del Sur, falou sobre a forma como os recursos naturais vem sendo explorados em nome do desenvolvimento das forças capitalistas e como essa exploração não resultou em benefícios importantes para os povos da região. Ele destacou a necessidade de se iniciar o processo de luta pela soberania da região e que o processo em  marcha deve ser alterado."Precisamos rechaçar a exportação de minérios a céu aberto e o desenvolvimento da monocultura", concluiu.

Rudnik afirmou ainda a importância da Rio+20 como uma oportunidade para promover um acordo a ser traçado entre as organizações políticas e sociais sobre a base de um programa comum que permita aos latino-americanos aprofundar a Defesa e alternativa sustentável para as nações para o presente e o futuro.