Chile baixa Lei de Segurança Nacional para reprimir protestos de estudantes
Chile baixa Lei de Segurança Nacional para reprimir protestos de estudantesO ministro do Interior do Chile, Rodrigo Hinzpeter, declarou hoje que a Lei de Segurança Nacional passará a vigorar a partir de amanhã em todo o país, no segundo dia da paralisação nacional convocada pelos movimentos estudantis e sindicatos de trabalhadores que há cinco meses reivindicam uma ampla reforma educacional e constitucional.
<!–
–>
A medida foi anunciada depois que 15 manifestantes queimaram um ônibus articulado e montaram dezenas de barricadas em chamas em diversos pontos do centro da capital, Santiago. A Lei de Segurança Nacional amplia os poderes da polícia para interpelar suspeitos e deter pessoas sem acusação formal. Também restringe direitos de associação e circulação dos cidadãos e deve ter impacto nos protestos marcados para a noite de hoje e a manhã de amanhã.
“O governo tomou esta decisão contra os que, hoje, interceptaram um ônibus, aterrorizaram e fizeram descer todos os passageiros e o motorista e, logo, incendiaram o coletivo. Como governo, não estaríamos cumprindo nossa obrigação se não apresentássemos esta lei”, anunciou Hinzpeter no palácio de governo. Pelo menos 60 pessoas haviam sido detidas até o fim da tarde de ontem. Para a noite, os estudantes convocaram um panelaço na Plaza Italia, tradicional ponto de manifestações públicas da capital.
O anúncio provocou críticas de diversos setores. O analista político Patricio Navia, acadêmico da New York University e da Universidade Diego Portales de Santiago do Chile, disse ao Opera Mundi que “esta é uma lei da ditadura, criada para reprimir o que se chama no Chile de terroristas sem muita base legal”. Segundo ele, a mesma lei já foi invocada em pelo menos três ocasiões desde a volta da democracia, em 1990 – duas delas durante o governo da Concertación, coalizão de centro-esquerda que esteve no poder por 20 anos antes da direita voltar ao poder, em março de 2010.
“É simbolicamente importante que a Lei de Segurança tenha sido invocada agora, no primeiro governo de direita desde o fim da ditadura. Trata-se de uma tentativa do presidente Sebastián Piñera de recuperar sua popularidade entre os setores de direita. Menos de 30% dos chilenos apoiam seu governo, apesar de que o eleitorado de direita no Chile é de tradicionalmente 40%”, disse Navia.
Esta semana, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) anunciou que investigará a ação da polícia chilena na contenção de distúrbios. Há dois meses, a tropa de choque matou um jovem em Santiago com um disparo de fuzil e centenas de jovens são detidos toda semana sem acusação formal. A polícia chilena tem o direito de deter pessoas para “checar documentos” por até 12 horas, incluindo menores de idade.
O governo enviou ao Congresso um Projeto de Lei que impõe pena de três anos de prisão para quem ocupar escolas ou universidades para protestar, ou quem desviar o trânsito ou desrespeitar a polícia no meio de um protesto.
Além da preocupação manifestada pela CIDH, o relator da ONU para Liberdade de Expressão, Frank La Rue, também pediu que o governo chileno autorizasse a visita de uma missão da organização ao país. Desde o início do governo Piñera, em março de 2010, 12 jornalistas de agências estrangeiras de notícias foram diretamente agredidos pela polícia. Hoje, foi a vez de um fotógrafo da agência de notícias France Presse ser preso. A ONG Repórteres Sem Fronteiras lançou um comunicado mostrando preocupação pela situação no Chile.
Tensão
Hoje, o clima foi de expectativa e tensão entre os milhares de jovens que há cinco meses estão mobilizados em todo o Chile pedindo mudanças no sistema educacional. Pelo menos 50 mil deles podem perder o ano letivo por engajar-se num movimento que não dá sinais de cansaço e entrou nos últimos dias num momento perigoso, com o governo decretando a Lei de Segurança Nacional.
O Opera Mundi esteve na Universidade do Chile na tarde de hoje. Dezenas de estudantes mobilizados se mostravam animados com o que consideram ser uma vitória na batalha pelo apoio popular. Hoje, o movimento estudantil entregou ao Ministério da Educação o resultado de um plebiscito nacional no qual quase 89% dos chilenos que participaram da proposta apoiaram a principal demanda do movimento, que é a educação gratuita. Pelo menos 1,5 milhão de chilenos votaram.