Texto publicado na coluna “Recado do Líder” no site da Liderança do PT na Câmara (www.ptnacamara.org.br)

 

Como era de se esperar, o pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff, na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, dia 21 de setembro último, em Nova York, obteve grande repercussão. Essa repercussão não decorre de nenhum “tour de force” retórico ou da boa vontade de quem quer que seja. Ela é fruto natural da autoridade do Brasil no cenário internacional, construída nos últimos nove anos, diante de um mundo que volta a lidar com uma crise econômica severa.

Consciente de suas altas responsabilidades perante o Brasil e a comunidade internacional, a presidenta Dilma Roussef subiu à tribuna da ONU para realçar o papel da mulher no mundo contemporâneo e para clamar pela ampliação destes direitos, condição imprescindível para que as sociedades sejam mais equilibradas, mais pacíficas e mais felizes.

Ela esteve lá também para lembrar que a superação da crise econômica só será alcançada pelo esforço de diferentes e numerosas nações e que, portanto, a guerra cambial, que consiste na subvalorização de suas moedas, por parte dos Estados Unidos e da China, é uma das formas do protecionismo e está longe de ser uma solução para os problemas da economia mundial. A presidenta também assinalou que o arrocho fiscal não é um método para se enfrentar uma recessão.

Dilma Roussef ressaltou que a atual estrutura de poder na ONU está vencida, reflete uma correlação de forças pretérita, datada dos fins da Segunda Guerra Mundial. Essa estrutura exclui, do Conselho de Segurança da ONU, continentes inteiros, como a América Latina e a África, e mantém uma exclusão obsoleta de países tão importantes como a Alemanha, Japão e Índia. Precisa, portanto, ser reformada.

Ela reafirmou a candidatura do Brasil a uma vaga permanente no Conselho de Segurança, lembrando nossas tradições de paz, um histórico de 140 anos sem conflitos com vizinhos, nossa contribuição para a manutenção da paz no Haiti e em outras partes do mundo. Salientou também que nosso continente é uma zona livre de armas nucleares, que nossa renúncia às armas nucleares está consagrada em nossa Constituição e fez um apelo em favor do desarmamento nuclear global.

Ao observar que em nosso país judeus e árabes vivem em paz, a presidenta da República reafirmou o apoio do Brasil ao reconhecimento do Estado palestino nas fronteiras de 1967. Ela sublinhou que Israel tem direito a fronteiras seguras frisando que a concretização desse direito passa pelo reconhecimento do Estado palestino.

A presidenta saudou também a primavera dos povos árabes, o grande movimento popular por liberdade e democracia que vem se desenvolvendo naquela parte do mundo, mas deixou claro, numa referência à Líbia, que a conquista da democracia deve ser obra do próprio povo e não fruto de intervenções estrangeiras.

Finalizando seu discurso, a Presidenta recorreu a sua condição de militante política contra ditadura, presa e torturada pelo regime, para reafirmar seu compromisso com os direitos humanos, com as liberdades públicas e com a democracia. Mas ela deixou claro que a defesa dos direitos humanos não deve ser seletiva, deve ser universal. Para Dilma Rousseff todas as violações de direitos humanos devem ser condenadas, independentemente da latitude onde elas ocorram. Uma crítica clara à hipocrisia dos chamados países desenvolvidos em temas como o de direitos humanos.

Na próxima semana, está prevista reunião de Dilma Rousseff com a cúpula da União Europeia, em Bruxelas. É o Brasil prosseguindo em seus esforços para encontrar formas para superar a crise internacional. Vale, no entanto registrar, que o mundo anda tão alterado que tem articulista da imprensa brasileira mais sectária que não hesita em afirmar: “Presidenta viaja a Bruxelas no momento em que o outro lado é que sente o ‘complexo de vira-lata”.

Evidentemente, a presidente Dilma Roussef não aprova a arrogância do articulista acima referido, mas é certo que ela e a diplomacia brasileira estarão em Bruxelas para um diálogo entre iguais. Vai longe o tempo em que a diplomacia brasileira se submetia a tirar os sapatos para desembarcar em determinados aeroportos, ou que até o presidente da República levava bronca em público de um chefe de estado estrangeiro.

Plenamente sintonizada com a agenda de nosso tempo, Dilma tem indicado o caminho que deve ser pavimentado para que tenhamos um mundo próspero, pacífico e com sustentabilidade.

*Paulo Teixeira é deputado federal pelo PT-SP e líder do partido na Câmara