Muitas testemunhas relatam saques, incêndios perpetrados por grupos de jovens e pouco ou nenhum policiamento. O vice primeiro ministro definiu com precisão. Atos de violência sem sentido. Agora, à meia noite em Londres, as forças policiais e de combate de incêndio estão operando perigosamente perto de seus limites.

Uma coisa que chama a atenção de quem mora em Londres é que sempre há uma noção de apocalipse rondando o ar respirado pelos londrinos. Seja pela imensidão da cidade, por tudo o que já se experimentou por aqui – bombardeios da Segunda Guerra Mundial ou os ataques terroristas de 2005. Em 2009, por exemplo, quando da gripe suína, o medo era palpável nas ruas e no transporte público. Em 2010, quando uma nevasca trouxe a cidade e o país a um estado de paralisia quase total, pessoas corriam para as lojas estocar comida como se estivessem em um filme B dos anos 1970. Mas agora é diferente.

Em Birmingham, a segunda maior cidade inglesa, mais saques, confusão e gente presa. Pela BBC, chegam notícias de Liverpool, dando conta de que a rebelião chegou lá, pela zona sul da cidade. Sob qualquer aspecto, a sensação é de perda de controle.

Esse é o período de férias de verão na Inglaterra: e o primeiro ministro, o prefeito de Londres, a secretária da Casa Civil e até o líder da oposição, todos se encontravam longe de Londres. Os jovens gangsteres, vestidos com capuzes para cobrir o rosto, aproveitaram o momento para se acomodar no assento de motorista, dirigindo a capital rumo a uma estrada perdida.

A verdade é que esses garotos que causam toda essa confusão sempre estiveram patrocinando vandalismo e pequenos crimes ao redor da cidade. Como antes eles estavam, no mais das vezes, restritos a áreas distantes, geralmente afastados das regiões mais afluentes, foi fácil para a sociedade ignorar o problema. Até agora. Então um conjunto extraordinário de fatores que vão da crise de emprego às medidas de austeridade, das férias escolares de verão à cultura da ganância catalizaram todo o potencial de destruição de uma só vez.

E a sensação que isso gera em qualquer um é o atordoamento da incredulidade. Agora imagine a descrença que isso gera nos moradores de uma cidade como Londres, tida como modelo básico da civilização ocidental.

Foi preciso 48 horas para o primeiro-ministro David Cameron anunciar seu retorno das férias para cuidar do que agora já toma contornos da maior crise civil já enfrentada por um país de primeiro mundo. Embora não seja o assunto do momento, quando a fumaça dissipar, essa demora na resposta irá certamente gerar embaraços e perguntas.

Mas as perguntas mais fundamentais não são as que definirão o futuro de David Cameron como primeiro ministro. As perguntas que todos se fazem nesse momento é como se chegou a essa situação. Que loucura é essa que vem se espalhando pelo globo a uma velocidade impressionante neste ano de 2011 e quantos cantos sairão incólumes a essa tsunami de rebeliões, revoluções, desobediência civil.

Que cartas tem David Cameron na mão para retirar esses "bandidos" das ruas é algo que deve se começar a responder amanhã à noite, quando, a menos que um milagre aconteça nas próximas horas, Londres entra no quatro dia de caos . Mas diante dos fatos, não é possível descartar nem mesmo a presença do exército nas ruas.

*Wilson Sobrinho, correspondente da Carta Maior em Londres.