As reações ao massacre na escola do Rio
Não há dúvida de que a causa matriz da chacina planejada que matou doze crianças na escola de Realengo foi um transtorno mental do jovem assassino e suicida. Há provas materiais e testemunhos de que ele vivia num mundo individual que cada vez mais o distanciava de comportamentos normais em sociedade. Em seu mundo diferente e particular, ele tecia uma colcha desconexa com retalhos da realidade de tragédias contemporâneas, seja captados pelos meios de informação, especialmente pela internet, seja obtidos nos fatos de sua vida e no meio onde habitava.
Mas, vejamos as reações daí decorrentes. Primeira e incontornável, a dor perplexa das famílias e da comunidade, a solidariedade e compaixão de toda a sociedade. Segunda e costumeira, o sensacionalismo maciço e mercadológico da mídia. Terceira, esta que vamos analisar, as avaliações sobre medidas que devam ser tomadas para evitar a violência em nosso país.
As sugestões foram desde estreitar o acesso à escola instalando detectores de metal na entrada delas, até abrir mais a escola à comunidade para melhor conhecer o que se passa no ambiente estudantil. Desde um novo plebiscito sobre a proibição da venda de armas de fogo, até a retomada da campanha pelo desarmamento.
É preciso nesta hora raciocinar. Ter menos ambição de aparecer e mais desejo de tirar algumas consequências para o futuro.
Fica claro o desvario da proposta de instalar detectores de metal na entrada das escolas. Pois então teria que fazê-lo nos shoppings, nas igrejas, nos teatros, nos casamentos, nas festas de aniversário, nos ônibus, no metrô, e em todo lugar onde se juntam pessoas que poderiam ser alvo de uma loucura assassina. Além de serem inúteis em face da engenhosidade de mentes doentias.
Também é inadequado propor, na emoção da semana dos fatos, a repetição do referendo que em 2005 levou 64% dos votantes a repelir a proibição da venda de armas. Quando a bolha da indignação atual estiver rompida, nada indica que a maioria vá mudar de opinião.
Diferente seria se os mesmos que propõem o plebiscito sobre o tema neste ano tivessem militado estes anos todos no movimento pela proibição da venda de armas e então atestado que a sociedade brasileira amadureceu para reavaliar a decisão de 2005. Precisamos a partir da experiência do referendo passado de um processo sistemático de convencimento da sociedade de que a venda de armas só proporciona mais violência.
Mais sensata é a proposta, por sinal já prevista no Orçamento do Ministério da Justiça, de fazer este ano a 3ª Campanha do Desarmamento e melhorar sua amplitude, com mais participação da sociedade. Campanhas deste tipo podem contribuir para a mudança da cultura armamentista em boa parte fomentada pelos fabricantes de armas e divulgada pelos belicistas. Lembremo-nos que o enrijecimento da legislação sobre posse e porte de armas, as campanhas de desarmamento anteriores, e as apreensões crescentes de armas pelas polícias, tiveram resultados positivos na queda do número de assassinatos no país.
Proposta esta casada com aquela de maior acompanhamento social e psicológico de estudantes nas escolas, de esclarecimento preventivo dos pais, que contribuem para melhorar a qualidade da educação e do atendimento às crianças e à juventude.
*Elói Pietá é Secretário-Geral Nacional do PT e vice-presidente da Fundação Perseu Abramo.