Walnice Nogueira Galvão* fez sua carreira docente em Teoria Literária e Literatura Comparada, como primeira assistente de Antonio Candido.

Walnice Nogueira Galvão* fez sua carreira docente em Teoria Literária e Literatura Comparada, como primeira assistente de Antonio Candido.

Afeita a enfrentar grandes desafios como pesquisadora e estudiosa de literatura, já para as suas teses de doutoramento (1970) e de livre-docência (1972) escolheu dois monstros sagrados: João Guimarães Rosa e Euclides da Cunha. Delas resultaram dois livros clássicos, respectivamente: As formas do falso – Um estudo sobre a ambiguidade no Grande sertão:veredas e No calor da hora – A guerra de Canudos nos jornais, que primam pelo rigor e pela erudição.

Publicou ao todo trinta e três livros, dedicados à crítica literária e cultural abrangente e diversificada, além do muito que escreveu para jornais e revistas; sem falar nos incontáveis cursos, palestras, argüições, prefácios e pareceres, no Brasil e no exterior.

Para os estudos de gênero, contribuiu com outro clássico, A Donzela Guerreira.

Nada que tenha a ver com cultura lhe é alheio: como costuma dizer Antonio Candido, ela sabe tudo. Mas, no que sabe e mostra que sabe, expressa uma visão coerente, na prioridade que atribui à qualidade artística, no respeito à chamada cultura popular e na intransigente defesa da alta cultura.

Ponto alto de sua carreira é a dedicação a inúmeras revistas culturais, de que é diretora e conselheira. À parte sua grande  contribuição para a Universidade tanto na docência quanto na pesquisa, tem uma considerável atuação como intelectual militante, levando da Universidade tudo o que aprendeu e ensinou para realizar um trabalho de divulgação científica e de formação de alto nível, em bibliotecas, associações, movimentos sociais, editoras, grupos, centros e núcleos de estudos. Da SBPC à APLL e destas ao Centro Ángel Rama, do qual é sócia fundadora. Do Colégio de São Paulo, onde entre 2001 e 2004 coordenou excelentes cursos de Literatura Universal na Biblioteca Municipal Mário de Andrade, à editora do Movimento Sem Terra, na qual é conselheira e autora.

Walnice sempre leu muito, escreveu muito e viajou muito, sendo boa conhecedora do interior do Brasil mas também do resto do planeta, tanto como Professora convidada das mais conceituadas Universidades pelo mundo afora quanto como “turista aprendiz”.

Viajando muito e trabalhando muito, não lhe sobrou tempo para fazer a própria publicidade. Entre alguns destaques dos últimos anos, em 2008 a Universidade Livre de Berlim promoveu um congresso em comemoração do centenário de Guimarães Rosa em que ela foi homenageada. Em 2009, recebeu o prestigioso prêmio Biblioteca Nacional pelo livro Mínima mímica – Ensaios sobre Guimarães Rosa, e em 2010 o Prêmio Academia Brasileira de Letras para Euclidiana – Ensaios sobre Euclides da Cunha.

O currículo de Walnice Nogueira Galvão não está no Lattes, ou melhor, o que está lá é incompleto e modesto, como, aliás, é qualquer currículo que ela nos possa fornecer. O mais atual tem quatro (!) páginas. Mas, como tudo o que ela escreve, exige leitores que saibam ir além das linhas e mesmo das entrelinhas, tentando captar o “espírito da intelectual”, penetrando seus livros e ensaios, percorrendo as suas raras e também lacônicas entrevistas, para perceber aqui e ali, no currículo de muitos pesquisadores e pesquisadoras no Brasil e fora dele, as marcas de seus achados.

LIGIA CHIAPPINI

Serviço:

Cerimônia de outorga do título de Professora Emérita da Universidade de São Paulo a Walnice Nogueira Galvão
DATA: 11.03.2011, às 14h30
LOCAL: Salão Nobre do Prédio da Administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Rua do Lago, 717 – Cidade Universitária – São Paulo – SP

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* Walnice Nogueira Galvão é autora dos livros "Ao som do samba: Uma leitura do Carnaval carioca" e "O Império do Belo Monte", ambos publicados pela Editora Fundação Perseu Abramo, e integra o Conselho de Redação da Revista Teoria e Debate.