Eleonora Menicucci de Oliveira
Militava na esquerda desde 1964, primeiro no PCB, depois na DI, POC. Entrei para a clandestinidade em outubro de 1968, depois de ter sido vice-presidente da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais e da diretoria da UNE/gestão José Luiz Guedes. Quando foi decretado o AI-5 já estava na clandestinidade em Belo Horizonte, e tomei conhecimento através de companheiros/as do POC. Minha reação foi bastante parecida com a da maioria das pessoas que se encontravam na mesma situação que eu: a ditadura apertava o cerco sobre o Movimento Estudantil e operário, jogando na clandestinidade muitos/as de nós. Assim, o AI-5 veio desmascarar a face pseudo "democrática" do golpe de 64. Minha reação e de meu companheiro na época, Ricardo Prata, foi de imediatamente sair de BH, o que aconteceu com nossa vinda para São Paulo.
Minha situação mudou completamente depois do AI-5, pois já em São Paulo, grávida de minha filha Maria, assumi totalmente o lugar de guerrilheira clandestina, com todos os riscos advindos dessa decisão. O país tornou-se um palco de guerra, uma guerra absolutamente desigual, uma guerra de canhões e metralhadoras contra idéias e utopia de uma geração que soube sofrer porque acreditou em uma sociedade mais justa. Fui presa em julho de 1971, torturada no DOI-CODI, ficando presa até 1974. Nesse período sofri a mais inominável tortura que foi a tortura de minha filha Maria, de 1 ano e 10 meses.
*Socióloga, professora titular de saúde coletiva da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina, 54 anos, divorciada, mineira, mãe de uma filha, Maria, e de um filho, Gustavo.