31 anos sem Santo Dias
Na trajetória de Santo Dias reconhecemos a vida de muitos brasileiros. Foi camponês, operário e sindicalista, militante católico, lutou pela anistia. Santo Dias morreu reivindicando direitos. Sua vida foi tirada, com um tiro pelas costas, pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, durante uma greve na porta da fábrica em que trabalhava. Era 30 de outubro de 1979.
O momento era das grandes greves de trabalhadores.
Era também o momento da luta pela anistia, ampla, geral e irrestrita.
O povo estava nas ruas!
Santo não foi preso político, mas foi morto pela mesma polícia que ainda agride e mata os trabalhadores, rurais ou urbanos, que lutam por justiça social.
Que criminaliza os movimentos sociais.
Que invade a periferia de nossas grandes cidades, levando o medo e não a proteção.
Santo Dias não estava sozinho nesta luta, ao seu lado estiveram pessoas que ajudaram a construir a nossa história, a história dos movimentos populares e a história de um país mais justo. Alguns conhecidos de muitos e muitos conhecidos de alguns.
Na sua luta sindical e na pastoral operária, esteve ao lado de Waldemar Rossi e de tantos outros. Uns ainda vivos, outros, como ele, já se foram.
Nas comunidades eclesiais de base e no movimento contra a carestia, militou com Ana Dias, Maria Reis, com a comadre Odete, com as amigas Jô Azevedo e Irma Passoni; com o padre Luis Giuliani e com o padre Jaime Crowe, com Dom Angélico e com Dom Paulo Evaristo Arns.
Pelo Comitê Brasileiro de Anistia, lutou pela volta dos brasileiros, ao lado de Luiz Eduardo Greenhalg e de Idibal Pivetta, além de muitas outras pessoas que sonhavam “com a volta do irmão do Henfil”.
Não estava mais vivo para ver, em 01 de novembro de 1979, a regulamentação da lei de anistia, que ainda não era ampla, geral e irrestrita, mas que possibilitou a volta de muitas lideranças do exílio. Santo Dias tinha sido levado dois dias antes.
A polícia ceifou a sua vida, mas não a sua história.
Santo Dias emprestou seu nome à luta por um país mais justo e solidário: virou centro de defesa de direitos humanos, foi imortalizado em ruas, praças, comitês. Poemas e canções foram feitos em sua homenagem.
E, lá no interior do Ceará, a rádio comunitária Santo Dias é sempre anuncia: Por justiça renascem Santos todos os dias.
Todo dia é dia de luta, todo dia é dia Santo!
*Adriana Loche é socióloga, foi secretária-executiva do Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo (2006-2009). É pesquisadora na área de segurança pública e direitos humanos.