As discussões sobre estratégias de comunicação e os caminhos para furar o bloqueio da imprensa marcaram o segundo dia do encontro da Direção Nacional da Central Única dos Trabalhadores, nesta quinta-feira (29), na região central de São Paulo.

As discussões sobre estratégias de comunicação e os caminhos para furar o bloqueio da imprensa marcaram o segundo dia do encontro da Direção Nacional da Central Única dos Trabalhadores, nesta quinta-feira (29), na região central de São Paulo.

O secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício, coordenou a mesa e lembrou aos presentes no plenário que os sindicatos não podem mais falar excluvisamente para si próprios. “Nossos inimigos são muito mais ousados e possuem maior capacidade para desinformar ou encaminhar ações que acabam dificultando o processo de comunicação. Precisamos encontrar outras formas de dialogar com a sociedade e, especialmente, com os trabalhadores.”

A seguir, o jornalista e professor da (USP) Universidade de São Paulo, Bernardo Kucinski, traçou um panorama da estrutura de comunicação que o movimento sindical encontra neste período de eleições e quais ações os trabalhadores podem adotar para dialogar com a sociedade sobre suas propostas

Jornalismo decente

Para ele, diante do bloco bloco homogêneo formado pela grande mídia, que defende conceitos presentes no neoliberalismo como a eliminação de todos os obstáculos para a movimentação financeira, é preciso veicular uma campanha pelo “jornalismo ficha limpa” durante as eleições 2010. “Minha proposta é que alguns jornalistas, conhecidos pela qualidade, respeito aos leitores e pela integridade, subscrevam um manifesto contendo alguns compromissos como o respeito à verdade dos fatos e o tratamento equânime”, disse.

Kucinski defende ainda a criação de uma rede de observatórios da imprensa, que integre aqueles já existentes no Brasil – inclusive aquele mantido pela CUT, e a publicação de uma portaria do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) lembrando aos meios de comunicação de massa que são outorga do Estado e estão obrigados estatutariamente à neutralidade e isenção política.

Ele prevê que os canais comerciais irão buscar mecanismos para aprofundar o apoio ao candidato José Serra como forma de compensar a diferença de tempo favorável à candidata Dilma Rousseff no horário político obrigatório. Assim, defende, “a mídia de maior potencial de ganha é a internet, que independe do capital financeiro e dos grandes meios de comunicação”.

Avaliação dos congressistas

De acordo com o professor, os movimentos sociais devem forçar a entrada dos temas sociais na agenda dos candidatos e da mídia, recorrendo a atos políticos ou ações que forcem os jornais a reportá-los. É preciso também demonstrar o caráter antisocial e antinacional dos governos do PSDB. “Em São Paulo, por exemplo, os desastres causados pelo apressamento de obras da Linha 4 do Metrô, os escândalos do Detran, da polícia militar e do DEM, em Brasília, serão escondidos pela grande mídia”, aposta.

Outras sugestões foram o convite aos candidatos para um debate no ambiente sindical onde ficariam claras as diferentes concepções em relação aos temas que interessam os trabalhadores, e a elaboração, por meio do DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), de uma avaliação dos congressistas que agoram concorrem a reeleição ou a outros cargos públicos.

Justiça x Democracia

O advogado e ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh acredita que há uma dicotomia no país. “Nunca houve tanta liberdade no Brasil, porém, nunca observamos todos os espaços de discussão nas mãos da mídia conservadora”, criticou.

Ele aproveitou ainda para critica o papel que o legislativo desempenha e tem acirrado no período de campanha. “A legislação vigente está procurando criminalizar os movimentos sociais e o processo eleitoral. Os debates na Justiça Eleitoral não consagram a democracia”, afirmou.

Como forma de romper o bloqueio da grande mídia, a secretária nacional de comunicação da CUT, Rosane Bertotti, e o secretário de comunicação da CUT/SP, Daniel Reis, apontaram as ações que a CUT desenvolve e os projetos que pretende implementar.

Rosane ressaltou que a estratégia para dialogar com a sociedade deve ser permanente e destacou dois pontos importantes presentes em uma pesquisa encomendada pela central. “Enquanto, por um lado, sempre que se fala em central sindical o primeiro nome que aparece é a CUT, por outro, ainda há grande desconhecimento sobre o papel que desenvolvemos.”

Para superar esse ponto negativo, a dirigente apresentou o Plano Nacional de Comunicação, focado na democratização da informação e na construção do diálogo com os trabalhadores.

O programa baseado em ações estratégicas a partir da Internet e que integrará internet, rádio, TV e redes sociais, porém, depende da colaboração de todos os cutistas. “A comunicação deve estar ligada a uma ação política para se ramificar e multiplicar nos movimentos sociais. Sem um trabalho articulado da rede CUT, com participação das CUTs estaduais e dos ramos, não será possível garantir a visão plural e diversificada que desejamos”, disse, antes de divulgar o vídeo com os projetos do novo site, rádio e TV Web da Central que estarão no ar já em agosto.

Ampliar a rede

Daniel Reis lembrou da iniciativa da Rede Brasil Atual, que inclui a Revista do Brasil, o programa de rádio Jornal Brasil Atual (98,9 FM) e a página www.redebrasilatual.com.br .Também destacou o lançamento da TVT, uma emissora com programação produzida e voltada aos trabalhadores que entra no ar no dia 13 de agosto.

Contudo, da mesma forma que Rosane, Daniel afirmou a necessidade da estrutura cutistas estar integrada ao processo. “Temos a necessidade clara e óbvia de ampliar a rede e isso depende tanto da informação gerada pelos estados, quanto pela divulgação de nosso trabalho”, apontou.