Seminário Pan-Amazônia: A integração infraestrutural 3
Por Maristela Lopes
Na terceira etapa do seminário internacional sobre a integração sul-americana organizado pelas Fundações Perseu Abramo e Friedrich Ebert e pelo Partido dos Trabalhadores realizado nos dias 14 e 15 de abril, em Belém, o debate “A integração infraestrutural na América latina e com os demais continentes” contou com a participação do professor equatoriano Manuel Salgado Tamayo, do representante do Partido Nacionalista Peruano Hernán Gonzales, e da pesquisadora e professora universitária Maria Consuelo Ahumada. Como comentaristas, participaram a vice-reitora da Universidade Federal do Oeste do Pará Raimunda Monteiro, da pesquisadora boliviana Andrea Urioste, e do professor venezuelano Miguel Angel Núñez.
A professora universitária colombiana e integrante da Comissão Internacional do Pólo Democrático Alternativo Maria Consuelo Ahumada fez questão de frisar a importância de proteção da propriedade intelectual. Para ela existe a necessidade de intensificar, reforçar e aplicar nos acordos bilaterais com os Estados Unidos ou com a União Européia, por exemplo, diversos pontos chaves visando a preservação da vida e do acesso aos conhecimentos tradicionais. Medicamentos essenciais, de acordo com a Organização Mundial do Comércio, merecem proteção por vinte anos e isso favorece a indústria farmacêutica e fez questão de registrar que a Amazônia é uma fonte imensa para nutrir esse recursos e o conhecimento que vem dos conhecimentos tradicionais.
Medicamentos tradicionais e o mercado
Ahumada teceu também comentários a respeito da medicina tradicional, que para a Organização Mundial de Saúde é uma somatória de conhecimentos técnicos e de práticas utilizadas na prevenção, no tratamento da saúde pelas comunidades locais, principalmente pelas mulheres, que fazem utilizam essas práticas baseadas em plantas medicinais, por exemplo. Mas existe o impacto com a importação de alimentos que altera a variedade de produtos locais e isso se presta para biopirataria como o roubo, a coleta não autorizada desses materiais dos recursos naturais. A professora disse que é preciso procurar formas alternativas para preservá-los. Ela disse ainda que as grandes indústrias farmacêuticas se preocupam com doenças que atingem as classe médias, médias altas dos países desenvolvidos e não doenças como a malária que atinge enormemente os países pobres.
Integração regional com participação dos povos
Manuel Tamayo, professor universitário do Equador, ressaltou que é preciso articular um processo progressivo, através de um pacto andino e do Mercosul, com táticas e estratégias para integrar a América Latina e que deve começar a partir da América do Sul. Ele fez questão de frisar que não se pode esquecer de consultar os povos dessas regiões e do Caribe. Tamayo disse que a integração deveria acontecer com projetos conjuntos que implique em trabalhos de infraestrutura, com um sistema de estradas, de ferrovias, aeroportos, com o cuidado do impacto ambiental dessas obras para que não se destrua mais a natureza. Ao mesmo tempo, segundo o professor, existe a necessidade de fortalecer uma integração financeira, uma forma de ter uma unidade monetária, como se fosse uma espécie de soberania financeira.
O representante do Partido Nacionalista Peruano, Hernan Gonzales, reiteirou que o tema era amplo, complexo, mas que era preciso aprofundar e aproximar os esforços políticos e intelectuais para integrar a América Latina de forma independente e soberana, a América do Sul e, em particular, a Pan Amazônia. Ele relatou que no Peru 70% da floresta peruana tem sido afetada à procura de energia e isso tem trazido repercussões na biodiversidade de áreas fundamentais como a Cordilheira dos Andes. Ele lembrou ainda da importância do desenvolvimento científico e tecnológico, porém sem abandonar a sabedoria tradicional dos povos. Disse reconhecer também a importância política da integração e que se deve ter clareza de qual é a concepção de integração que se quer.
A vice-reitora da Universidade Federal do Oeste do Pará, Raimunda Monteiro, enfatizou a importância da integração física da América do Sul e em especial de sua parte norte, uma vez que nas fronteiras existem ativos econômicos e ambientais. Para ela, os projetos macro de integração trazem também riscos macros e as esquerdas precisam aprofundar o debate, por exemplo, sobre o uso das bacias para hidrelétricas. Ela lembrou que o Ministério da Ciência e Tecnologia tem uma política para fomentar a produção de conhecimento, em particular pelas universidades.
Andrea Urioste, professora boliviana, comentou sobre a necessidade dos corredores para escoamento de produtos agroindustriais brasileiros, na lógica do monopólio das grandes empresas. Segundo ela, é evidente a necessidade de avaliação dos impactos ambientais, do que acontece com as comunidades locais que recebem esses impactos. Ela fez questão de frisar a necessidade de definir exatamente para quem e para que a integração entre os países: para os oligopólios ou para as comunidades.
Na visão do professor, pesquisador da Venezuela, Miguel Núnez, existem alguns avanços em seu país, como na área da saúde e da educação – houve uma diminuição considerável do índice de analfabetismo. E isso, segundo ele também tem um sentido humanista.