Os fatos podem ser mais ou menos relevantes. Podem entrar ou não para a história de um país. Mas, de alguma forma, entram sempre na história de vida das pessoas que deles participaram.

Os fatos podem ser mais ou menos relevantes. Podem entrar ou não para a história de um país. Mas, de alguma forma, entram sempre na história de vida das pessoas que deles participaram.

Muitos participam dos fatos e, depois, sequer são citados quando a história é contada. São anônimos perante a história, mas o fato não é anônimo para as suas vidas. Todos têm uma história para contar, uma parte da história, às vezes mínima, sobre sua participação.

Contam, assim, "uma história". E aqui vai uma breve história de um fato que entrou para a história do Brasil.

Até 1980, eu não militava em nenhum partido político. Militava no movimento em defesa da saúde pública e pelos direitos dos médicos residentes. Militava junto aos movimentos sociais de Curitiba. Fazia palestras sobre saúde e direitos de cidadania.

Final da década de 1970. Surge o Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes) e o Reme (Movimento de Renovação Médica). Participo de ambos e, como resultado, sou escolhido presidente do Cebes, núcleo de Curitiba, e eleito como suplente para a diretoria do Sindicato dos Médicos do Paraná.

Na mesma época, há grande agitação política e social no Brasil, contra a ditadura militar. No seio dessa mesma agitação, começa o debate sobre a criação de um partido político de esquerda. Participo desse debate entre os militantes do movimento da saúde pública, que já na época discutia a implantação de um sistema único de saúde.

Cria-se em Curitiba e no país um movimento "pró-PT". Tomo ciência da reunião que estava sendo preparada para São Paulo, no dia 10 de fevereiro de 1980. Um dos critérios para participar era ser dirigente de alguma entidade de caráter social, e eu presidia o Cebes. Após algum debate e reflexão, candidatei-me a ir para a reunião.

De Curitiba saiu um ônibus, com pouco mais de 30 pessoas, além de alguns automóveis. Fui de carro, com o advogado Luiz Salvador. Se não me falha a memória, era uma Brasília azul. Para não cometer injustiça e omissões, não citarei o nome dos paranaenses que conhecia ou que conheci depois e que lá também estavam.

No dia 10 de fevereiro de 1980, há 30 anos, o PT ganhava vida e começava a entrar e a criar a história do nosso país. E eu comecei a vida política partidária e a ter uma história para contar.

Não há espaço aqui para relatar tudo o que carrego daquele dia. Mas posso registrar que havia, no olhar de todos os presentes no Colégio Sion, líderes ou não, o brilho da esperança de construir um novo país. Com a participação efetiva dos trabalhadores, sob o marco do socialismo, palavra que, naquele momento, de ditadura, não poderia estar escrita. Construir uma força política organizada e autônoma, com a participação de trabalhadores e trabalhadoras. Enfim, um partido de massas.

Participei de todas as fases de construção do PT, que, aliás, não foram fáceis: filiar pessoas para legalizar o partido; eleição de 1982, com o voto vinculado, cujo resultado gerou uma crise no partido; perseguição a militantes com demissões ou não contratação para trabalhar. Superamos os obstáculos com muita solidariedade.

Ao comemorar 30 anos de PT, posso dizer que me orgulho por ter participado dessa história, e de ter uma história para contar. Posso afirmar que, em parte, o Brasil é o que é hoje graças ao Partido dos Trabalhadores. Não nego a história dos outros, mas foi o PT o principal partido a sair às ruas para exigir a democratização do país, e o primeiro a levantar a bandeira da eleição direta para presidente.

O PT conseguiu dar voz e vez aos explorados e oprimidos. E é do PT o presidente que faz hoje o melhor governo da nossa história. E este é apenas um fragmento de uma grande história, ainda em curso.

*Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR).

 

Publicado no Portal PT, em 10/02/2010