Duas pequenas declarações de nossa autoria, publicadas pelo jornal Folha de S.Paulo na edição de segunda-feira (8), provocaram surpreendente reação dos partidos oposicionistas e de seus porta-vozes na grande imprensa. Nossas frases, juntas, mal somavam cinco linhas. Para respondê-las, o Estado Maior da direita brasileira produziu um editorial com 727 palavras, um artigo com outras 823 e uma nota conjunta (assinada pelos presidentes do PSDB, do DEM e do PPS) com mais 284.

Duas pequenas declarações de nossa autoria, publicadas pelo jornal Folha de S.Paulo na edição de segunda-feira (8), provocaram surpreendente reação dos partidos oposicionistas e de seus porta-vozes na grande imprensa. Nossas frases, juntas, mal somavam cinco linhas. Para respondê-las, o Estado Maior da direita brasileira produziu um editorial com 727 palavras, um artigo com outras 823 e uma nota conjunta (assinada pelos presidentes do PSDB, do DEM e do PPS) com mais 284.

O que dissemos para causar tamanha incontinência verbal? Dissemos que o mundo vive uma crise do modelo neoliberal, do qual PSDB e o DEM foram os grandes patrocinadores no Brasil. Óbvio do óbvio. Até as paredes sabem o que desgoverno FHC fez na década passada e o quanto seus sagrados mandamentos (Estado mínimo, privatizações, corte de gastos e choque de gestão, entre outros) estão umbilicalmente ligados à bíblia do neoliberalismo. Os principais gestores daquele desgoverno fizeram a apologia do “fim da história”, como se o capitalismo neoliberal pudesse representar a solução para todos os conflitos sociais, regionais e setoriais. Hoje, estamos assistindo ao “fim da estória”, aquela estória que nos contaram os “neobobos” que privatizaram o Brasil.

Não há qualquer novidade nesse diagnóstico. Expressá-lo é um direito. Repeti-lo, um dever de todos os cidadãos que não querem a volta do modelo responsável por quebrar o Brasil três vezes e que, hoje, ameaça jogar o mundo inteiro na mais profunda recessão desde 1929.

Nos países centrais do capitalismo, importantes gurus do neoliberalismo já vieram a público reconhecer seus erros. No Brasil, ao contrário, os que passaram a vida papagaiando estes mesmos gurus agora correm para trás da moita e se escondem ali, rezando para que esqueçamos tudo o que escreveram, disseram e praticaram até ontem. Compreensível que reajam de maneira histriônica quando alguém traz à tona a memória de um passado tão incômodo.

Digna de nota, nesse caso, é a comovente solidariedade entre os parceiros do projeto fracassado. PSDB, DEM, PPS e mídia – aqui muito bem representada pelo tradicionalíssimo Estadão – uniram-se no ataque às nossas observações, embora com discursos diferentes.

Enquanto os partidos dizem que não podem ser responsabilizados pela crise, o Estadão repete, em editorial e na coluna de Dora Kramer, a tese cômica de que o presidente Lula deve sua alta popularidade ao fato de supostamente ter mantido os “fundamentos” da era FHC. No espaço diário que mantém no jornal, a colunista parece tão convencida de seu raciocínio que chega a nos dar uma chance de reparação: “Pode ter havido um mal entendido”, diz ela. “Se houve, cabe ao PT esclarecer as coisas o quanto antes”.

Então vamos aos esclarecimentos. Em primeiro lugar, não houve mal entendido. Dissemos e reafirmamos: o projeto de país inaugurado pelo PT e pelo governo Lula é diametralmente oposto daquele que foi sepultado quando FHC, o PSDB e o DEM deixaram o Palácio do Planalto, por soberana vontade popular.

O governo Lula promoveu um inédito crescimento com distribuição de renda, realizando o maior processo de inclusão sócio-econômica de que se tem notícia na história do país. Para chegar a esse resultado foram fundamentais a reorganização do Estado – destruído e dilapidado na gestão anterior –, a recuperação dos bancos públicos, o compromisso com os mais pobres, o combate incessante às desigualdades sociais e regionais, a democratização do crédito e dezenas de outras políticas públicas que levaram ao surgimento de um vigoroso mercado interno de consumo e que em nada se assemelham à pregação neoliberal.

Com Lula, o Brasil também abandonou a habitual submissão aos interesses norte-americanos, diversificou suas exportações, privilegiou a integração regional, articulou-se com demais nações emergentes e passou a atuar como protagonista em todos os fóruns internacionais – sempre, diga-se, contra a vontade da oposição e da mídia em geral. Por eles, teríamos avalizado a ALCA (Área de Livre-Comércio das Américas), que sacramentava o Brasil como quintal dos EUA e cujo acordo FHC deixou pronto para ser assinado em 2005. Com a economia norte-americana em frangalhos, não é difícil imaginar o seria do país hoje se o governo Lula não tivesse brecado toda a operação.

Esses são os motivos pelos quais o Brasil é considerado, pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o país mais bem preparado para o enfrentamento da crise internacional. E esses são os motivos da alta popularidade do presidente Lula.

Os que se envergonham do que fizeram não se iludam. Nós, do PT, fazemos questão de promover esse debate. E não para “patrocinar uma volta às origens”. As mudanças que promovemos no Brasil em apenas seis anos são a maior prova de nunca nos afastamos de nossas origens e de nossos compromissos.

Ricardo Berzoini é presidente nacional do PT
Paulo Ferreira é secretário nacional de Finanças e Planejamento do PT

Publicado no Portal PT em 10/12/2008