Livro retrata vida e luta de Victor Meyer, um revolucionário
Redação – Carta Maior
Emiliano José lança nesta sexta-feira (12), às 18 horas, na Estação Pinacoteca (Antigo DOPS), Largo General Osório, 66, Luz São Paulo – SP, o terceiro volume da coleção Galeria F – “Lembranças do Mar Cinzento” (Caros Amigos Editora). Depois de falar nos primeiros livros sobre diversos personagens que lutaram na Bahia contra a ditadura, como Juca Ferreira e Othon Jambeiro, desta vez, o escritor e jornalista dedica todo o livro a Victor Meyer. O autor afirma que não se trata exatamente de uma biografia no sentido tradicional, mas de um roteiro biográfico. Meyer nasceu em Salvador em 1949 e passou a infância em Alagoinhas, onde cursou o ensino médio antes de voltar para a capital, onde se destacou como dirigente estudantil e depois se vinculou à Política Operária (Polop), uma organização revolucionária marxista.
A Polop era precursora de uma visão crítica do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Foi graças à sua acuidade intelectual que Victor se aproximou da Polop e tornou-se militante da organização. “Ele era um militante dedicado ao estudo. A Polop era muito voltada para a análise e um estudo mais denso, mais apurado. Tinha um viés marxista rigoroso e uma carga teórica muito forte”, relata o autor. Na Polop, Meyer tinha companheiros como Emir Sader, Moniz Bandeira e Marco Aurélio Garcia, atual assessor especial para assuntos internacionais da Presidência. Para Emiliano, Meyer foi uma exceção, já que viveu clandestinamente por muitos anos e não “caiu” (ser preso ou morto, no jargão da esquerda revolucionária). O autor lembra que os militantes tinham uma “vida útil” de cerca de um ano e meio a dois. “Se examinar os números, vai ver que a média era essa aí”, assinala.
Meyer pode não ser uma das figuras mais notórias ou conhecidas entre as que lutaram contra a ditadura militar no Brasil, mas, para o escritor, era um homem de grande densidade e de dedicação à luta do povo. “Acima de tudo, ele tinha muito estudo, era de pesquisar muito e não só de falar”, pontua. Desde muito cedo, Meyer era muito dedicado à leitura. Asmático, talvez isso o tenha levado a certo recolhimento e à dedicação aos livros. Também se interessava muito por música clássica e por cinema. “Ele tinha essa propensão intelectual, no melhor sentido da palavra”, registra Emiliano José. Uma de suas companhias nessas atividades intelectuais era Yara Falcón, integrante de uma família dedicada à militância política e que terminou recrutando Meyer para o movimento contra a ditadura militar.
Emiliano relata que ela ficou impressionada quando o ouviu falar em público pela primeira vez, em uma cerimônia de boas-vindas aos calouros, organizada pelo Diretório Acadêmico da Escola de Geologia da UFBA, onde Meyer estudava. Mas ele não entrou na luta armada. A Polop, ao contrário de outras organizações, seguia um caminho diferente. Mas, mesmo sem usar armas, Meyer precisava se proteger e, para isso, usava um “nome frio”, como era comum na época. “Os que se dedicavam à luta revolucionária eram empurrados para a clandestinidade. Eu fui preso e era obrigado a ter uma segunda carteira de identidade. Usava o nome Pedro Luís Vian. A gente conseguia uma certidão em algum lugar e, dentro das organizações, havia alguém especializado em falsificar documentos”, recorda o autor, que passou quatro anos preso na Penitenciária Lemos Brito, em Salvador.
Emiliano traça também um retrato pessoal e sensível de Victor Meyer, especialmente no capítulo “Para Viver um Grande Amor”, dedicado à relação entre ele e a mulher, Eliza Tieko. O casal começou a namorar em meados da década de 1970 e viveu junto até a morte de Victor, em 2001, vítima de câncer. Perdeu amigos na ditadura, passou anos preciosos como foragido, de aparelho em aparelho. Nem por isso tornou-se um “mensageiro do infortúnio”. Dedicou sua inteligência a uma visceral preocupação com o mundo e com a humanidade. O autor, Emiliano José, nasceu em São Paulo e vive na Bahia desde 1970. É autor de livros sobre Carlos Marighella, o inimigo número um da ditadura millitar e Lamarca, o capitão da guerrilha. Durante muitos anos, o ex-deputado Emiliano José deu aulas no curso de Jornalismo da UFBA.