Marcus Sokol: É hora de proteger a nação, não a especulação
Marcus Sokol
A HORA É DE PROTEGER A NAÇÃO, NÃO A ESPECULAÇÃO
(adaptação de contribuição ao Diretório Nacional do PT de novembro de 2008)
Agora que a crise do capitalismo dominado pela especulação bate no Brasil, quando inclusive o presidente da República reclama do “cassino financeiro”, não chegou a hora de revogar as medidas anteriormente impostas pelo FMI, a “lição de casa” dos banqueiros, tais como a Lei de Responsabilidade Fiscal, imposta para os municípios fazerem superávit e pagarem a dívida?
E passadas as eleições, onde o PT estagnou nos 16,5 milhões de votos no 1º turno (16,3 milhões em 2004), e no 2º turno não ganhou as capitais em disputa (São Paulo, Porto Alegre e Salvador), não é evidente que a política atual tem relação com as dificuldades eleitorais?
I
O capitalismo leva o mundo ao impasse.
No Brasil, a Bolsa chegou a cair 20% numa semana – bilhões evaporaram!- enquanto o Real se desvalorizava 30% em quatro semanas.
Subitamente empobrecida, a Nação foi duramente atingida pela crise econômica mundial. Esses são os fatos.
Não se trata da “ganância” de alguns, mas da própria natureza do sistema capitalista. É o sistema da grande propriedade privada dos meios de produção, dominado pela especulação, que está em crise. Crise que não será resolvida por “regulamentação”, menos ainda, por uma “autoridade monetária mundial” como propõe o FMI, debilitando ainda mais os Estados nacionais, na verdade, em favor da especulação.
Não, não é “normal” que, como querem os capitalistas, os trilhões que faltam para criar empregos, recuperar os serviços públicos e acabar com a fome e a miséria, sejam torrados para salvar bancos.
E quem vai pagar a conta?
Os orçamentos públicos cortando gastos sociais?
Os empregos amputados pelas empresas que especularam?
As nações sem crédito, levadas a fazerem mais privatizações?
Não! Os povos e os trabalhadores não aceitam pagar a conta! A começar pelo povo dos EUA.
O resultado das eleições mostra que a maioria oprimida do país quer a “mudança” da política, slogan da campanha de Barack Obama, simbolizada pelo impopular “plano Paulson”, que doou 1,3 trilhões de dólares aos especuladores.
Sim, o sistema financeiro da especulação é um “cassino”. E já se viu um cassino “regulamentado”? Por isso, a única medida justa, a única “medida comum” que qualquer governo do mundo pode tomar é fechar o cassino, ou seja, estatizar o sistema financeiro sem indenização nem revenda.
Mas, atenção, a “nacionalização parcial” feita nos EUA e na Europa é, ao contrário, uma privatização parcial de recursos do Estado para salvar bancos.
II
No Brasil, o presidente Lula questionou a “socialização dos prejuízos” pelos EUA. Mas mandou o ministro Mantega para Washington na reunião dos ministros do G-20, com Bush, o FMI e o Banco Mundial, onde ele puxou o coro da “resposta rápida, ampla e coordenada à crise”. Ou seja, fez coro com a doação de trilhões aos especuladores para continuar a política atual – como é possível?
Aqui, Lula autorizou o Banco Central a socorrer os bancos admitindo usar dinheiro público: “Vamos comprar ações dos bancos, não dar dinheiro. Se um banco se recuperar, pode até (!) devolver o dinheiro” (OESP 14.10). Quer dizer, se não se “recuperar” fica com o dinheiro, como uma doação. Como é possível?
Certos estão os bancários que não pararam a greve por causa crise, apesar da Febraban dizer que “não é hora de fazer greve, com a crise todos devem se juntar”!? Por décadas o lucro foi só deles, e agora ainda querem a “união nacional” para salvá-los?
Nenhuma “união nacional” para salvar bancos, nem com a Febraban no Brasil, nem com o FMI em Washington na reunião dos presidentes do G-20!
Neste ponto, está certo está o presidente Chávez, que sobre as pretensões do diretor do FMI, Strauss-Khan, assumir mais poderes disse: “deveria estar calado. O que tem que dizer o FMI ao mundo, senão assumir sua responsabilidade na crise e dissolver-se?”
III
Na crise, a responsabilidade do governo Lula, eleito pelos trabalhadores, é proteger a Nação e a família trabalhadora, não a especulação.
E se não foi para isso, o que Lula foi fazer na reunião do G-20?
A crise, que a paguem os diretores das 200 empresas que especularam com “derivativos” e os donos dos bancos.
A transferência de dinheiro público para os bancos darem crédito – que não chega nas empresas – é, na verdade, “transfusão de sangue para vampiro” (como disse um empresário da ABDIB). E se há bancos em dificuldade, a medida justa é intervir para estatizar.
A crise é grave e as pressões enormes.
Várias empresas entram em férias coletivas anunciando o “facão”. O governo adiou a entrega do Orçamento de 2009 no Senado, e anuncia 8 bilhões que cortes que atingirão o custeio e os concursos públicos, enquanto os patrões e seus partidos pregam abertamente o corte ou adiamento dos reajustes conquistados pelos servidores.
Os companheiros do Diretório podem concordar ou não com todas propostas aqui apresentadas. Mas é possível aceitar uma nova rodada de exigências do FMI, cortes de gastos, demissões e privatizações (anunciadas em aeroportos e rodovias) em benefício da especulação?
Pensamos que não, e há no país as condições para puxar outra política, petista, soberana de fato.
IV
O povo acaba de votar nas eleições municipais. 16,5 milhões votaram no PT.
Se no 2º turno o PT teve 1 milhão de votos a menos nas capitais – 5 milhões em 2008, contra 6 milhões em 2004 – também é certo que comparando apenas as capitais onde lançou candidatos, o PT teve 162 mil votos à mais. Justamente, o problema foi a “política de alianças”. Ela tirou o PT da disputa em BH em benefício do PSB/PSDB, em Goiânia para o PMDB e Cuiabá para o PR, cidades onde tivemos mais de 1,1 milhão de votos em 2004!
Ainda assim, o PT reconquistou vários centros, em particular cidades operárias disputadas no 2º turno – o que mostra como os trabalhadores procuram ainda se utilizar do voto no PT para se defender.
Ao contrário do que diziam os partidos e grupos que não conseguiram ser uma “alternativa de esquerda ao PT” no 1º turno, e que insistiam que não havia nada a disputar no 2º turno, quando chamaram ao voto nulo.
Mas apesar, também, daqueles que dentro do PT baixaram os braços e se agarraram à mística da “popularidade do presidente”, e passaram a campanha inteira contornando os problemas para, agora, fazerem um balanço triunfalista da “vitória”.
Vamos falar a verdade: subordinada nos fatos ao Palácio do Planalto, a direção impôs uma série de “alianças” em nome da “base aliada”, muitas delas em benefício do PMDB, e aceitou com resmungos até mesmo o absurdo apoio ao candidato de Aécio em BH!
Em São Paulo, inclusive no 2º turno, se evitou fazer a verdadeira polarização contra o prefeito do DEM. Ele, que terceirizou (privatizou) a Saúde através da Lei das Organizações Sociais, com as chamadas “AMAs”… que a candidata do PT dizia que ia “melhorar”, apesar da plataforma do Encontro Municipal prever a sua “reversão”.
V
Agora, a crise econômica que se abre coloca na ordem-do-dia uma outra política no país.
Lula disse que “a crise não nasceu na África ou na América Latina. Nasceu nos Estados Unidos e contaminou a União Européia. Eles é que tem que pagar pela crise”.
Então, para que o Brasil não pague a crise, é hora do PT discutir com o governo Lula as medidas de proteção do povo trabalhador e da nação!
– Dinheiro para o povo, não para a especulação: para investir no serviço público, garantir o Piso Salarial Nacional dos professores e cumprir os acordos com os servidores, acabar com o Superávit Primário e revogar a falsa Lei de Responsabilidade Fiscal, ambas imposições do FMI para pagar dívidas e alimentar o “cassino financeiro”. O PT deve apoiar a campanha da CNTE contra os Governadores do PSDB e outros, inclusive os “muy aliados” do Ceará e do Paraná, que questionam o Piso.
– O Pré-Sal É Nosso: tirar o petróleo da mão da especulação para retomar o controle nacional, como propõe a CUT, com o monopólio 100% para a Petrobras, retirando nossas riquezas da mão dos privatizadores e especuladores. O PT deve apoiar o abaixo-assinado da FUP “O Pré-Sal É Nosso” de apoio ao Projeto de Lei com esse conteúdo.
– Reajuste do Salário Mínimo: recalcular com a “inflação de alimentos” que corroeu o poder aquisitivo dos assalariados, agora achatada pelo efeito do câmbio.
– Reforma Agrária: dinheiro para assentar os acampados e não para o agro-negócio;
– Soberania Nacional: a soberania de um é a soberania de todos; o governo deve defender a unidade e a soberania da Bolívia, mas também Retirar as tropas do Haiti para restabelecer a sua soberania.
*Markus Sokol é membro do Diretório Nacional do PT